sexta-feira, 4 de maio de 2012

Aspectos básicos das sinapses


Olá leitores do nosso blog, como vocês já sabem iremos tratar aqui dos neurotransmissores e temas a eles relacionados, como drogas e doenças mentais. Antes de começar a falar sobre esses temas, no entanto, precisamos abordar alguns aspectos básicos do funcionamento do sistema nervoso e dos neurotransmissores, importantes substâncias na transmissão de informação nesse sistema.
                A unidade básica do sistema nervoso é o neurônio, um tipo de célula composto por corpo celular, axônio e dendritos. No corpo celular está localizado o núcleo e as principais organelas do neurônio. Do corpo saem vários dendritos e um único axônio. A informação normalmente é passada do axônio de um neurônio para dendritos de outros neurônios, o que é chamado de direção anterógrada. Essa ligação entre axônio e dendrito é chamada axodendrítica. A transmissão pode ser feita também do axônio de um neurônio ao corpo celular ou axônio de outro, sendo chamadas de axosomática e axoaxonal, respectivamente. O axônio não entra em contato direto com os neurônios subsequentes, o espaço existente é chamado sinapse e é por ele que a informação é transmitida.
                As informações são transmitidas pelo neurônio por meio de potenciais de ação, relacionados a cargas elétricas. A membrana do neurônio é polarizada, tendo o meio intracelular carga relativamente mais negativa em comparação ao meio extracelular. O impulso ocorre quando há uma despolarização em uma região da membrana, que é repolarizada em seguida mas leva à despolarização das regiões subsequentes, sendo transmitido como uma onda. Ao chegar ao fim do axônio e alcançar a sinapse, esse impulso pode ser transmitido à próxima célula de duas formas: elétrica e química.
                A sinapse elétrica consiste na transmissão de eletricidade através de canais proteicos, os gap junctions, que permitem a passagem de íons diretamente de uma célula a outra, não podendo ser bloqueados. O potencial de ação é passado por meio da entrada desse íon na próxima célula, que provoca a despolarização da membrana e consequente transmissão do impulso nervoso. Esse tipo de sinapse não ocorre em grande quantidade no sistema nervoso central, mas as junções gap atuam na transmissão dos potenciais de ação em músculos lisos e estriados cardíacos. Na sinapse elétrica os sinais podem ser transmitidos em ambas a direções e são conduzidos de maneira mais rápida do que nas sinapses químicas.
As sinapses químicas, principal tipo presente no sistema nervoso central, são realizadas através da secreção de substâncias pelo primeiro neurônio, os neurotransmissores, portanto sendo o foco desse blog. Esses neurotransmissores ficam armazenados em vesículas no neurônio pré-sináptico e quando liberados atuam na membrana do neurônio pós-sináptico. A região da membrana pré-sináptica a que as vesículas se unem, liberando as substâncias transmissoras, possui proteínas às quais as vesículas se ancoram e é chamada zona de ativação. Essa liberação ocorre por meio de um mecanismo que envolve canais de cálcio. A despolarização da membrana faz com que os canais de cálcio se abram, permitindo a entrada desse íon no terminal pré-sináptico. Dentro do terminal, o cálcio se liga a certas proteínas, os sítios de liberação, que então promovem a abertura das vesículas e liberação dos neurotransmissores. A condução de informação na sinapse química, ao contrário da elétrica, é unidirecional, ocorrendo somente do neurônio pré-sináptico para o pós-sináptico. Desse modo, as sinapses químicas são mais específicas, permitindo funções mais direcionadas e focadas.
                A atuação das sinapses químicas se dá devido à interação entre os neurotransmissores e as proteínas receptoras, presentes na membrana pós-sináptica. Esses receptores possuem uma parte que se exterioriza, à qual as substâncias transmissoras se ligam, e uma parte que atravessa a membrana chegando ao interior do neurônio. Essa parte se chama componente ionóforo e pode ser um canal que permite a passagem de íons, constituindo um receptor ionotrópico, ou uma estrutura que ativa outras substâncias dentro do neurônio, constituindo um receptor metabotrópico.
Os receptores ionotrópicos são divididos em canais catiônicos e canais aniônicos. O primeiro tipo é um canal coberto interiormente por cargas negativas, atraindo cátions quando aberto, principalmente o sódio. As cargas positivas do íon sódio excitam o neurônio com sua entrada, portanto chamamos as substâncias que abrem canais catiônicos de transmissores excitatórios. Os canais aniônicos funcionam de forma oposta, permitindo somente a passagem de ânions, principalmente o cloreto. A entrada de ânions no neurônio o inibe, e por isso chamamos as substâncias que abrem canais aniônicos de transmissores inibitórios.
Como a abertura dos canais iônicos ocorre em um período de tempo muito curto, receptores ionotrópicos não permitem estímulos mais duradouros, como o armazenamento de memória. Para esses processos prolongados são estimulados os receptores metabotrópicos, que, ao receber o estímulo, liberam uma substância no interior do neurônio pós-sináptico, a proteína G. Essa substância então atua dentro do neurônio, podendo abrir canais iônicos, ativar enzimas ou ativar a transcrição de determinados genes.

Referências: Guyton, A. C. Tratado de fisiologia médica. 11ª edição. Rio de Janeiro, Elsevier, 2006. p. 555-562



quarta-feira, 2 de maio de 2012

Introdução


Nós, os autores desse blog, somos alunos do primeiro semestre de Medicina na Universidade de Brasília e o blog faz parte de um trabalho da disciplina Biofísica e Bioquímica. Com ele, pretendemos transmitir informações de maneira acessível sobre os neurotransmissores, suas ações, consequências e alterações, como no caso de drogas e doenças mentais. Esses temas são recorrentes na mídia e no cotidiano das pessoas, mas geralmente são pouco entendidos por leigos, até porque eles não foram completamente compreendidos pela comunidade científica. Gostaríamos muito de entendê-los melhor e explicar o que já foi desvendado de maneira inteligível para pessoas comuns.
Primeiro, é importante saber o que são neurotransmissores e a que funções eles estão relacionados. O principal responsável pelo comando do nosso corpo é o Sistema Nervoso. Ele é a central de informações, que as capta, processa, interpreta, decide a reação a ser tomada e comunica quem deve efetivá-la. Nossos pensamentos, sentimentos, movimentos e outras funções são controlados pelo sistema nervoso. Tudo isso é feito por meio dos neurônios, células especializadas no processamento e transmissão de informações. A comunicação entre essas células, essencial ao seu funcionamento, ocorre justamente por meio de substâncias chamadas neurotransmissores, que são o tema principal do nosso trabalho.
Vai ser preciso explicar melhor aspectos básicos relacionados aos neurotransmissores. Primeiro, deixar claro a morfologia e o funcionamento de um neurônio, para que se possa compreender as sinapses e a ação dos neurotransmissores. Também precisaremos mencionar a definição formal de neurotransmissores, suas classificações e as funções e áreas de atuação de seus principais representantes.
Em grande parte, nossas vidas pessoais são fortemente influenciadas pelos neurotransmissores. Ansiedade, memória, sono, percepção da dor, desejo sexual e até paixão podem ser explicados em termos bioquímicos relacionados a essas substâncias. Pretendemos esclarecer alguns desses mecanismos, de modo a deixar esse blog e o tema de neurotransmissores mais próximos do cotidiano.
A disfunção no comportamento bioquímico dos neurotransmissores está relacionada a diversas doenças mentais. O tipo de distúrbio e os sintomas decorrentes variam de acordo com o neurotransmissor e o erro ocorrido (pode estar no próprio neurotransmissor, nos receptores ou na destruição desses agentes químicos, por exemplo). O grupo pretende publicar as principais doenças mentais e expor desde como ocorre a como é o tratamento dessa doença, priorizando a parte da bioquímica, mas também sem deixar de refletir acerca das questões sociais.
As drogas são substâncias licitas ou ilícitas que alteram o funcionamento do organismo. As mais importantes para esse trabalho são as que atuam no sistema nervoso central; elas podem ser usadas no tratamento de doenças ou ter caráter social e recreativo, com possibilidade de causar dependência. Essas substâncias têm ação alterando a atividade dos neurotransmissores de diversas formas. Assim, temos como objetivo entender o funcionamento dessas drogas e quais os caminhos metabólicos que elas utilizam, pois poderemos entender melhor seus efeitos e os próprios neurotransmissores. Além disso, buscaremos abordar certos aspectos sociais das drogas, como o dos dependentes químicos.
Esse projeto teve a finalidade de demonstrar aspectos interessantes que podem ser abordados sobre a temática dos neurotransmissores e suas potencialidades. Com esse blog, pretendemos melhorar o entendimento do grupo e dos leitores acerca das ações dessas substâncias nas células, como a deficiência desses mecanismos de informação pode gerar doenças, como agem as drogas e quais são suas influências sobre neurotransmissores e qual a química envolvida por trás e eventos do cotidiano. Nosso objetivo é difundir o conhecimento existente e em desenvolvimento relacionado a essas substâncias fundamentais para nossa vida, os neurotransmissores.